Encontro com Nero

Imagine um artista bem doido e talentoso. Nero de Deus é um desse. Eu o conheci logo no início da carreira como jornalista do setor cultural. Quem atua na imprensa há alguns anos  na área cultural na região Metropolitana do Vale do Paraíba, certamente já ouviu falar de Nero de Deus.

E depois de tanto tempo, eu o encontro em uma rua de Jacareí, ornamentado com chapéu e óculos, carregando a inseparável pasta com seus riscos sobre uma @monark de barra circular azul. Logo nos reconhecemos e paramos para uma prosa.

Nero é um homem franzino, de meia idade, e os cabelos louros ganharam uma tintura de amarelo mais intenso. Os olhos azuis são os mesmos de tempos atrás, sempre a perscrutar ao redor enquanto troca palavras com o interlocutor. Já o sorriso ora inocente ora sarcástico também em nada mudou.

Nero de Deus é assim… Suas obras não ocupam grandes galerias de arte, mas quem o conhece sabe que não é apenas por falta de talento.

Sua (sempre) aparência franzina ganha corpo diante de suas obras, que carregam traços da inquietude e excentricidade que sempre o acompanham.

A primeira vez que o vi foi durante a entrevista, fiquei intrigada com seu jeito controverso, e satirizei com o fotógrafo que me acompanhava, “Nero Só por Deus”. Por outro lado, não teve como não reconhecer o talento do artista. Na ocasião, sua arte lembrou-me o colombiano Fernando Bottero. Mas uma pouco mais de atenção percebi que Nero de Deus tem seu estilo próprio, respeitadas as influências que todo artista carrega. E isso se confirmou quando li seus intrigantes poemas e o vi transformando materiais descartáveis em expressivas concepções artísticas….

Ele é daqueles artistas inquietos que na primeira oportunidade está riscando uma ideia. Pode ser numa velha lousa ou no chão batido de uma estrada qualquer.

Nero de Deus não estampa colunas sociais nem distribui autógrafos. Mas é um grande artista, como outros tantos anônimos que usam da criatividade e inspiração para esculpir, pintar, arquitetar ou escrever obras por aí.

Enquanto conversávamos na calçada, noto a impaciência de alguns motoristas no trânsito da rua movimentada, gente com tanta pressa e mau humor. Preciso encerrar a prosa porque tenho um compromisso. Sugiro uma selfie (não sou muito disso, mas precisava registrar esse reencontro).

Ele pergunta se vou postar no “face”. Replico: você está nas redes sociais? E a resposta é: Claro! Youtube, Instagram, Facebook…