A encantadora Zilda Arns

Quando ouvi a notícia sobre a morte de Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, lembrei da frase de Guimarães Rosa: ‘as pessoas não morrem, ficam encantadas’. Foi uma forma que encontrei para justificar a tristeza pela morte trágica provocada pelo terremoto no Haiti, em janeiro de 2010.
Acredito que quem a conheceu, mesmo que por breves instantes assim como eu, tenha ficado encantado. Apesar de não estar mais entre nós, ela vai continuar encantando muita gente. Pois seu ideal de vida fez bem a tantas pessoas, ajudando a quem não tinha nada e também ensinando a tudo saber partilhar.
Tive a oportunidade de me encontrar pessoalmente com Zilda Arns uma única vez.
Foi há um ano antes da tragédia, em visita rápida que ela fez ao Vale do Paraíba, mas o suficiente para constatar sua serenidade, firmeza e fidelidade na missão que abraçou.
Bem nascida, longe de passar as privações que a miséria provoca, Zilda Arns poderia ter sido apenas uma médica, mas foi além do profissionalismo e optou pelo ideal de mudar a realidade do País em que vivia. Ao fundar a Pastoral da Criança, conseguiu convencer pessoas de todas as camadas sociais (pobres, ricos, políticos, religiosos) de que era possível reduzir a mortalidade infantil e melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem na pobreza com uma receita simples: orientação, comida, higiene e muito amor. Hoje a Pastoral da Criança está presente em todos os Estados do Brasil e é reconhecida internacionalmente, com o apoio do Unicef, agência da Organização das Nações Unidas.
Reconhecida internacionalmente, cuja fama lhe rendeu indicações ao Nobel da Paz, Zilda Arns sempre se manteve firme no seu propósito de atuar em favor dos mais fracos e não se rendia a bajulações. Apesar do olhar e sorriso fraternos não se intimidava diante de autoridades governamentais quando o assunto era cobrar mais atitude perante a miséria.
Embora esse trágico terremoto tenha tentado silenciar a sua voz, ela vai continuar falando por meio das inúmeras pastorais da criança espalhadas pelo nosso País e por meio dos milhares de pessoas que foram contaminadas pelos seus ideais.
Católica, Zilda Arns nunca restringiu o atendimento da Pastoral da Criança e se colocou a serviço de quem necessitava, independentemente de questões religiosas. Zilda Arns deixou como lição que, acima das diferenças socioeconômicas, culturais ou religiosas, a nossa vida só pode ser melhor quando melhoramos o mundo ao nosso redor.
Rosana Antunes, Jacareí

ZildaArns

Nota: Além de Zilda Arns foram confirmadas 20 mortes de brasileiros, sendo 18 militares e mais dois civis. Em 2015 teve início o processo de beatificação de Zilda Arns pela Igreja Católica. Ela nasceu em 25 de agosto de 1934, em Forquilhinha, Santa Catarina (SC),

Preservação

Preservar um patrimônio artístico e arquitetônico não é coisa de quem gosta de velharia. Mas é uma forma de manter viva a memória e escrever a história de uma civilização. É fazer uma ponte entre passado, presente e futuro, permitindo que as gerações futuras compreendam suas origens. Pois a lição que aprendemos ontem pode sempre impulsionar novas experiências.

IMG_20190704_103941Torre de antigo castelo, construída há mais de 800 anos em Rouen (França). Local onde Joana D’Arc foi presa e condenada.