Conversa apetitosa

Enquanto aguardava atendimento no consultório, a TV exibia um programa de receitas e a dica da hora era bolo de fubá cremoso. Da cadeira eu assistia a tudo com vontade de devorar aquele pedaço que a apresentadora cortava com tanto primor.

Então cortei o silêncio que rondava a sala com um comentário direcionado à recepcionista. “Gosto muito de bolo, mas não acerto a receita do tal fubá cremoso”.

Ela, muito simpática, levantou a cabeça, até então inclinada sobre fichários de pacientes, e emendou: “Eu também”. “Mas gosto muito de bolo simples, desses para tomar com café, não dos confeitados”, completou a moça.

Assim iniciamos uma prosa de dar água na boca.

Eu fiz questão de reforçar que gosto do bolo ‘simples’, mas também de todos os outros. É que gosto tanto de bolo, que costumo dizer que não rejeito nem bolo ruim.

E essa minha predileção vem da infância, quando ficava ao redor da minha mãe, observando-a enquanto preparava o bolo. Desde o ajuntamento dos ingredientes ao movimento que ela fazia ao girar rapidamente a colher de pau na vasilha redonda até a massa ficar uniforme, depois despejava cuidadosamente na forma untada por óleo e farinha de trigo e levava ao forno. Eu permanecia ali, até que ela me oferecia a colher de pau para que eu desse uma lambida na massa. Ah que delícia! Até hoje minha memória gustativa e olfativa não me permitem esquecer aqueles momentos. Minha mãe sempre dizia: -“Ei menina, quando crescer estará enjoada de tanto comer bolo”. Mãe sempre sabe das coisas, mas nessa, digamos que ela se equivocou.bolo

Mas além de comer, eu também gosto de fazer bolos. E sempre que posso arrisco uma receita e, modéstia à parte, obtenho sucesso com o pessoal lá em casa. E as receitas variam: chocolate, prestígio, leite em pó, limão, laranja, cenoura… À exceção do tal fubá cremoso, que tentei uma vez, mas fiquei tão frustrada com o resultado que não insisti mais.

E o assunto entre mim e a recepcionista seguiu saborosamente pelo saber-fazer da culinária. Falamos de caldinho, doces caseiros e ao final ela me ensinou uma receita de farofa de banana, que já tive o prazer de comer em um hotel certa vez, mas não tinha a mínima ideia de como era feita.

E por falar em receitas, um dia li em algum lugar que cozinhar é uma arte. E é mesmo! Desde um prato elaborado como um Fricassê de Bacalhau a um simples bolo de cenoura.

Pois não se trata de apenas juntar os ingredientes e levar tudo ao fogo. Há todo um processo criativo, que começa pelo conhecimento da receita, passa pela seleção dos ingredientes… e se você for mais atencioso aprende um pouco de história. Porque cada especiaria traz consigo a cultura de um lugar.

E, claro, cozinhar é uma arte ou poesia ou as duas coisas, pois exige emoção, sentimento. Você precisa ter desejo para preparar o prato que, consequentemente, deve despertar o desejo de ser consumido. E que alegria quando alguém fica seduzido pelo aroma e sabor do pitéu que você preparou.

Voltemos ao exemplo simples do bolo de cenoura: um bolo de cenoura com cobertura de chocolate. A cor da cenoura fica incorporada na textura da massa já assada, mas que é tingida de marrom ao receber um banho de calda de chocolate. E quando se retira a fatia e põe no prato é possível,a cada garfada, apreciar o chocolate infiltrado naquela massa fofinha e cor de cenoura. Hummm…

Como papo de receitas não tem fim… fique à vontade para sugerir a sua.