O Frentista

Chego para realizar a troca de óleo do carro. Um frentista vem me atender, usando máscara vermelha com emblema amarelo da rede à qual o posto de gasolina pertence. O acessório (agora obrigatório) está um pouco folgado, o que faz com que o funcionário, com frequência, ajeite-o sobre o nariz.

Ele me informa o valor e pergunta se vou fazer a troca?

-Sim, vou fazer – respondo.

O homem se dirige a uma pequena mesa, próxima ao local onde será feita a troca de óleo. Eu o acompanho. Enquanto ele se prepara para iniciar o serviço, olho ao redor e noto que, próximo à mesa, há uma cadeira preta de escritório, com o estofamento um tanto gasto, mas limpa. Então pergunto se posso me sentar. Ele diz: Fique à vontade.

Penso: Opa! Enquanto ele realiza o serviço, vou aproveitar esse tempo para navegar na internet, dar uma espiada nas redes sociais…

Acomodo-me na velha cadeira de escritório e com uma das mãos busco pelo celular na bolsa. São alguns segundos procurando o inseparável aparelho em meio a tantas coisas possíveis numa bolsa de mulher. E quando pego o celular, o frentista me pergunta:

Vai sobrar meio litro… a senhora vai querer levar a sobra?

– Vou! – respondo, disposta a não dizer mais nada, certa de que tudo o que me interessa é a telinha do smartphone.

Mas assim que me sento na velha cadeira, ao ver o frentista retirar a tampa do recipiente do carro para realizar a troca do óleo, surge uma curiosidade. O que é feito com o óleo retirado de tantos carros que passam por aquele serviço? Qual o destino desse resíduo?

Então faço a pergunta a ele.

O funcionário aponta para um canto, onde há uns quatro tonéis, e responde: –Tá vendo isso aí? Toda semana, um caminhão passa por aqui e leva. Vai tudo para a reciclagem. Acho que serve para produzir óleos de segunda linha…

Eu comento: – Hoje em dia, muita coisa pode ser reaproveitada. É um ciclo bem interessante. Até porque a gente não tem outra saída. É necessário que aproveitemos o máximo tudo o que produzimos, porque já não cabe mais a cultura de tudo virar lixo e nem temos lugar para despejar tanto lixo. Produzimos muito, consumimos muito e se tudo o que produzirmos só resultar em lixo, estamos perdidos.

À esta altura, meu celular já havia se perdido novamente na bolsa.

E a prosa segue. Do assunto da reciclagem, nem sei bem como, mudamos totalmente para outro tema. O que é natural no prosear.

O frentista ajeita novamente a máscara e comenta: – Esse negócio de usar máscaras é muito chato, mas não tem outro jeito.

Eu respondo: Sim. Infelizmente é necessário no momento. Precisamos nos cuidar.

Ele concorda e relata uma experiência: – Ah sim. Mas tem gente que é ignorante e abusa. Outro dia chegou um senhor aqui, acho que devia ter uns 70 anos. E quando ele foi descer do carro, lembrei a ele que é obrigatório o uso de máscaras. O homem já respondeu gritando: “Não vou colocar essa porcaria de máscara e quero ver quem vai me obrigar!” Foi mal educado dessa forma, só porque disse uma coisa que é certa. Então respondi: -Eu cumpro ordens. E chamei o gerente. Achei uma falta de educação e uma agressividade sem motivo. Estou no meu trabalho e também quero ser respeitado. Mas tem gente que se acha no direito de humilhar os outros.

Eu continuo a ouvir o frentista: – Eu sei que tem muita gente boa, mas também tem muita gente mal educada. E têm ainda aquelas que são indiferentes, que nem percebem que a gente existe. Há quem chega para abastecer e não dá nem um bom dia, uma boa tarde. Mas eu já estou acostumado… E hoje em dia, com esse negócio de celular, as pessoas também não tem muito interesse em conversar, de verdade, com os outros. Tem aquelas que são caladas, tímidas mesmo, sentem vergonha de se comunicar. Mas a maioria é porque só fica grudada no celular… (Pensei na minha atitude quando me sentei na velha cadeira de escritório). Tudo hoje em dia é resolvido pelo Facebook, pelo WhatsApp… mas quando encontram a gente na rua nem cumprimentam. Mas nem tudo é ruim. Já consegui uns contatos importantes pelo Facebook. Tudo é a gente saber usar…

Ouço o relato um tanto indignada com a atitude do cliente.

Ele termina de trocar o óleo. Confere se está tudo ok. Limpa as mãos num pano de estopa e me entrega a nota para eu realizar o pagamento. Enfim, serviço feito.

E a prosa com o frentista me deixou uma lição. A tal da palavra “empatia”, tão em moda nos dias atuais, é muito bem empregada e defendida no ambiente virtual. Mas como será que está nossa empatia nos relacionamentos reais? No convívio com as pessoas que vamos encontrando na nossa real jornada diária? Jornada, onde o nosso olhar encontra o olhar do outro e, muitas vezes, a única coisa que ele quer é ser ouvido, mesmo que seja apenas para dar um bom dia.