Quero fazer xixi!

Naquela sala de espera, a garotinha de corpo esguio e com roupas coloridas, destoava dos outros pacientes que aguardavam ser chamados para a realização de exame. Ela tinha cabelos curtos, mas trazia um tererê com fita azul. Também usava óculos de grau.

Enquanto a mãe dela permanecia sentada em uma das cadeiras, a menina estava lá, grudada na vidraça, de frente para a rua. E por muitos minutos permaneceu ali conversando e cantando. E seu corpinho delicado se movimentava, conforme o diálogo que ela desenvolvia com tanta interação no seu mundo mágico. Impressionante era a forma como ela contorcia os pés, enquanto girava de um lado por outro. A danadinha parecia de borracha.

Para muitos pacientes podia ser só uma criança falando sozinha. Mas a garotinha não estava se importando com isso. Até porque o mundo adulto é muito complexo e um tanto preocupante. O que podia ser refletido nos semblantes sérios dos adultos que ali estavam, diferentes da menina, que cantarolava e dançava naquele laboratório.

O motorista, de um dos carros parados em frente à vidraça, deu partida. O barulho a assustou por instantes e ela silenciou, enquanto observava até o carro sair. Na sequência retomou seu diálogo com os personagens de seu mundo imaginário.

A mãe a interrompera vez e outra para que ela pudesse tomar mais água. Incomodada questionou: – Água de novo?!

A pequenina ia fazer uma ultrassonografia. Curiosa, perguntei à mãe  a idade da menina e o motivo do exame. A explicação foi que a menina nasceu com dilatação em um dos rins e por isso precisava fazer um acompanhamento periódico.  

Por fim, depois de tanta água, o resultado não podia ser outro:

– Mãe, eu quero fazer xixi!

– Mas não pode… Você vai ter que aguentar, respondeu a mãe. E como forma de aliviar a aflição da filha, a mulher a pegou no colo e ambas ficaram ali aguardando serem chamadas.

E eu fiquei na torcida para que o exame da garotinha tenha um ótimo resultado.